O avanço das apostas como nova fonte de receita
Em 2025, o Paraná se tornou um dos estados mais atuantes na regulação do mercado de apostas no Brasil. A Lottopar (Loterias do Estado do Paraná) lidera o processo desde a aplicação da Lei nº 14.790/2023, abraçando modalidades como bets online, apostas de quota fixa e máquinas VLT (Video Lottery Terminals).
O estado emitiu mais de 2.500 licenças para VLTs, uma iniciativa que gerou R$ 60 milhões em receita apenas no primeiro semestre. O modelo vem sendo citado como referência nacional, sendo observado por outras unidades federativas em busca de novas fontes de financiamento público.
Certificação internacional e compromisso institucional
Em agosto de 2025, a Lottopar conquistou o nível 2 de certificação em Jogo Responsável concedido pela World Lottery Association (WLA) — um marco inédito entre loterias estaduais brasileiras. Isso sinaliza um compromisso com práticas transparentes, prevenção da ludomania e promoção de uma indústria supervisionada.
Segundo seus dirigentes, parte expressiva dos recursos gerados com as licenças é destinada a programas sociais: segurança pública, habitação e políticas preventivas, reforçando a imagem de gestão equilibrada e socialmente responsável.
Caminho estreito entre oportunidade e risco
Apesar dos ganhos econômicos e simbólicos, o crescimento das apostas acende sinais de preocupação em profissionais de saúde, educadores e famílias. O fácil acesso por aplicativos móveis favorece índices crescentes de jogadores compulsivos, especialmente entre homens jovens.
Dados relevantes de 2025:
- O DataSenado registrou que 13% dos brasileiros apostaram online nos últimos 30 dias, número que representa mais de 22 milhões de pessoas.
- O Paraná figura entre os cinco estados com maior número de apostas per capita.
- Segundo o Instituto Locomotiva, 65% da população é contra a legalização das apostas, e 71% repudia sua publicidade.
A campanha “Junho Paraná Sem Drogas” agora aborda o tema da ludomania como prioridade. A Secretaria de Saúde relata aumento nos atendimentos psicológicos ligados à dependência em jogos de azar digitais.
Impacto no comércio e mudanças de hábito
A popularização das apostas já mostra efeitos além da esfera individual. Comerciantes do setor de bares e restaurantes, entrevistados pelo portal Bem Paraná, notaram queda no movimento: torcedores passam a acompanhar jogos de casa enquanto apostam pelo celular, reduzindo a frequência em estabelecimentos.
Há ainda relatos de VLTs instalados de forma irregular, o que reforça a necessidade urgente de fiscalização rigorosa, delimitação de zonas permitidas e controle das concessões.
Balanceando apostas: avanço econômico com responsabilidade social
O governo enxerga as apostas como fonte estratégica de receita e modernização fiscal. Ainda assim, cresce a pressão por:
- Maior transparência nos processos de licenciamento
- Controle rigoroso da publicidade, especialmente para proteger jovens
- Restrições horárias e proteção contra algoritmos de aliciamento em apps
- Criação de identificação biométrica para uso prolongado
Essas ações poderão determinar se as apostas colaboram com o estado ou geram riscos difíceis de reverter.
Tabela – Panorama das apostas no Paraná em 2025
Elemento | Situação Atual | Efeito Potencial |
Licenciamento de VLTs | 2.500+ máquinas em operação | Arrecadação expressiva; alerta de vício |
Certificação Responsável | WLA Nível 2 | Validação internacional; credibilidade |
Acesso online às apostas | Alta penetração entre jovens adultos | Crescente risco de dependência |
Recursos arrecadados | R$ 60 milhões no semestre | Financiamento de áreas prioritárias |
Saúde mental | Aumentaram atendimentos por vício | Necessidade de políticas públicas adequadas |
Comércio local | Redução no público em bares e eventos | Impacto indireto na economia local |
A sociedade reage: debates, críticas e propostas legislativas
Enquanto o setor público celebra os ganhos, organizações da sociedade civil, pesquisadores e parlamentares vêm questionando a falta de limites claros para o crescimento das apostas. Há uma preocupação crescente com o poder das casas de aposta — que já se tornaram patrocinadoras de times, influencers, portais de notícia e até eventos culturais.
Algumas propostas em discussão no Paraná e no Congresso Nacional incluem:
- Bloqueio de algoritmos de indução em aplicativos de apostas, especialmente aqueles que oferecem bônus por tempo de uso contínuo.
- Exigência de identificação biométrica para sessões prolongadas em plataformas digitais.
- Restrições ao horário de funcionamento de VLTs — especialmente em áreas urbanas e próximas a escolas.
- Proibição de publicidade durante eventos esportivos com alto índice de audiência jovem.
- Criação de um fundo estadual de combate à ludomania, financiado por taxas sobre operadoras de jogo.
Essas propostas buscam garantir que o setor cresça sem comprometer o bem-estar coletivo.
O papel da mídia e da educação preventiva
Veículos como Tribuna do Paraná e Bem Paraná vêm cobrindo de forma crítica o impacto das apostas. Reportagens mostram desde histórias de jovens endividados até denúncias de irregularidades em máquinas VLT. Essa cobertura tem sido essencial para aumentar a consciência pública.
Além disso, escolas estaduais e ONGs passaram a incluir o tema em oficinas e rodas de conversa, com foco em:
- Alfabetização digital crítica
- Reconhecimento de práticas abusivas em aplicativos
- Discussão sobre consumo e impulso
A educação surge como ferramenta central para prevenir os efeitos mais nocivos do vício.
Paraná como modelo — ou advertência?
Com sua estrutura pioneira de licenciamento e fiscalização via Lottopar, o Paraná está sob os olhos do país. A experiência do estado poderá servir de guia para outras regiões — tanto pelos seus acertos quanto pelos seus erros.
Se a arrecadação continuar crescente e os mecanismos de controle forem eficazes, o modelo paranaense poderá ser referência de equilíbrio. Mas, se os impactos sociais superarem os benefícios, o estado pode ser citado como alerta do que acontece quando o mercado cresce mais rápido do que a regulação.